sexta-feira, 28 de janeiro de 2011


OS MOINHOS E O MAR - 1

Uma das formas de passar os nossos tempos livres - e de qualquer pessoa, pensamos - é fazê-lo de uma forma construtiva, produtiva e realizadora. Não basta passear ou viajar ou conversar ou ler ou ouvir música. Isso é, sem dúvida importante. Mas há mais coisas que se podem fazer. Pelo nosso lado fazemos tudo isso; mas fazemos outras coisas também.

A alimentação foi, é e será sempre, e cada vez mais, um dos mais importantes objectivos do ser humano. Durante milénios os cereais foram para muita gente a única forma de alimentação. Para isso a farinação passou por variadíssimos processos, sendo que o mais importante foi o moinho - de vento ou de água. Actualmente há muita gente que se dedica ao tema dos MOINHOS em todas as suas vertentes. Uns mais a fundo, outros nem tanto, mas sempre com a intenção de ajudar outras pessoas a compreender este tema e a dar o justo valor a engenhos e a uma profissão que tanto ajudou a vida humana (e não só). É o nosso caso.

Estes engenhos, com muitíssimas reconstituições actuais feitas por profissionais que ainda trabalham nessa área, que até aos finais do século XIX representavam a única forma de transformar os cereais em farinha, estão ligados a toda uma série de ciências que a maior parte das pessoas não imagina.

Durante algum tempo iremos apresentar neste blogg um grupo de termos que provam a estreita ligação entre a linguagem usada nos moinhos e a usada no mar ou nas suas embarcações. Veremos o que cada um desses termos significa no alto dos montes e nas planuras marítimas, e quais as suas semelhanças e diferenças.

O esquema do trabalho é simples: apresentação dos termos por ordem alfabética, fornecimento dos significados molinológico e marítimo, e uma pequena reflexão sobre eles. Nalguns casos serão apresentadas imagens para melhor esclarecimento.

ADUFA
MOLINOLOGIA - Moinhos de Água: portal ou comporta feita em tábuas pregadas em 2 toros que se situa antes da entrada da água na seteira e que, subindo ou descendo nuns rasgos cortados na pedra, impedem ou permitem a passagem da água.

MAR - pequena porta manobrada mecanicamente cuja finalidade consiste em permitir ou impedir que a água passe por uma abertura existente numa comporta.




As duas definições, no que concerne às suas finalidades, têm o mesmo significado: impedir ou permitir a passagem de água; no caso dos moinhos essa água irá ou não accionar os seus mecanismos motores. Aqui a adufa é usada nas estruturas de condução de água ao moinho; na náutica propriamente dita constata-se que este termo não nomeia directamente qualquer componente de embarcações mas é aplicado nas estruturas de apoio à sua construção ou reparação. E tanto numa como noutra o material usado é o mesmo – a madeira, podendo ser manobradas manualmente ou não, usando para isso mecanismos próprios. Como vemos existe uma total identidade entre estas duas definições.

AFEIÇOAR
MOLINOLOGIA - adaptar algo a outra coisa; dar a feição de algo a outra coisa.
MAR - ajeitar o pano à verga e dispô-lo de modo a dar o melhor rendimento e a apresentar um bom aspecto.

É um termo de uso generalizado podendo-se encontrar em qualquer ramo da vida ou do conhecimento. Para que tal seja possível é apenas necessário que existam duas ou mais coisas a ser comparadas ou adaptadas. Nos moinhos esta adaptação é muito necessária, por exemplo, no sistema de Moagem em que as duas pedras – a mó e o poiso – são tratadas com areia – arear - girando uma sobre a outra tendo areia pelo meio, de modo que, pelo seu desgaste, se afeiçoem uma à outra a ponto de formarem um casal de mós.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

ESCHER e GIACOMETTI

27/01/2011
É sempre bom voltar a Évora! Revisitar a cidade muralhada e branca e sentir o Alentejo nas suas ruas é sempre muito agradável! Também é muito atractiva a perspectiva dum almocinho tipicamente alentejano regado com um bom tinto bem maduro. Só isto já justificava uma tal visita mas desta vez também temos outro fito: visitar as exposições de M.Escher (1898-1972) e de M.Giacometti (1929-1990).
Bem perto do ex-libris de Évora – o Templo de Diana – fica o Forum Eugénio de Andrade que desde Dezembro alberga a exposição A Magia de Escher’, com litografias, desenhos e xilogravuras deste holandês que nos maravilha com a sua imaginação transcendente, algumas vezes surrealista mas inevitavelmente espectacular. A transformação de simples traços em figuras complexas e encaixadas umas nas outras é uma maravilha. Da catedral submersa às escadas que sobem e simultaneamente descem, ao emaranhado de formas animais que se esfumam no ar, tudo, enfim, nos fascina.

Depois do almoço no restaurante ‘O Moinho’ em que nos deliciámos com uns pézinhos de coentrada e outros petiscos e de uma pequena visita ao moinho que lhe dá o nome, seguimos para o Convento dos Remédios, edifício recentemente restaurado pela C.M.Évora e que alberga, ainda, o Conservatório da cidade. Numa das áreas do edifício encontra-se uma interessante recriação do neolítico e do paleolítico bem como a representação de uma anta – do Zambujeiro – e uma maqueta do Templo de Diana tal como seria nos seus tempos áureos. Nas o que nos trouxe aqui foi a exposição fotográfica ‘Giacometti, 80 anos, 80 imagens’. Este corso que viveu e morreu em Portugal (1959/1990) realizou um trabalho notável de recolha musical do nosso património; a par disto soube também captar fielmente, sob forma fotográfica, os ambientes, as gentes e os costumes do povo português na segunda metade do século XX. Foi como se voltássemos às aldeias da nossa infância, com tudo o que isso nos traz de saudade, alegrias e tristezas: porque muitos dos motivos destas fotos ou desapareceram ou foram tragados pela floresta de cimento que a pouco e pouco tem invadido os nossos campos mas ao mesmo tempo conhecemos pessoas que ainda se preocupam em preservar o há.
Bem hajam as gentes de Évora por estas duas exposições.